Em 2012
trabalhei como não pensava ser possível, fiz horas seguidas sem intervalos, escrevi relatórios que pareciam não ter fim, palmilhei muitos quilómetros de estrada, assisti a professores desorientados, dei a mão a pais e meninos que queriam até mais do que a mão, o colo.
comecei a levar vacinas e acabei a fazer análises, não foi nem de perto nem de longe um ano em que me sentisse no meu melhor
esperei, tive muita muita esperança, como eu não pensava vir a ter nem sequer vir a precisar,
chorei como não pensava ser possível chorar, do choro com som, com soluços e com gritos. Porque há coisas que deixam de caber em nós e corremos o risco de sufocar se insistimos em abafá-las
sofri uma dor que para muitos, quase todos, é incompreendida, descabida, despropositada e demasiada. Mas a medida da minha dor foi a medida da minha esperança e esse ciclo tão fatídico veio em dose dupla.
Dei a mão e abraços apertados, permiti que o D. me visse tremer como nunca tremi numa noite em que fui ao hospital. Tremer de frio, de medo, de desilusão, de desmoronanço.
2012 foi o ano que eu não pensava que ia ser, tive o trabalho que pensava que não ia ter e não tive a alegria maior que pedi de olhos bem apertados na meia noite do seu primeiro dia.
2012 deu-me a volta e tatuou bem fundo e a quente e a ferros a certeza absoluta de que estamos completamente à mercê do que está planeado para nós por alguém que não somos nós mesmos.